terça-feira, 10 de janeiro de 2012


tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo condizia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!

Ergueu-se de um salto, passou rapidamente um roupão, veio levantar os transparentes da janela... Que linda manhã! Era um daqueles dias do fim de agosto em que o estio faz uma pausa; há prematuramente, no calor e na luz, uma certa tranqüilidade outonal; o sol cai largo, resplandecente, mas pousa de leve; o ar não tem o embaciado canicular, e o azul muito alto reluz com uma nitidez lavada; respira-se mais livremente; e já se não vê na gente que passa o abatimento mole da calma enfraquecedora. Veio-lhe uma alegria: sentia-se ligeira, tinha dormido a noite de um sono são, contínuo, e todas as agitações, as impaciências dos dias passados pareciam ter-se dissipado naquele repouso. Foi-se ver ao espelho


Eça de Queiroz O Primo Basílio

Nunca fui menina bem alienada.pudera,nunca tive vocação pra ser Amelia,pra cegueira mutipla e discursos sem opinião própria.
Eu quero da vida o que ela tem de cru e de belo.Não estou aqui pra que gostem de mim.Estou aqui pra aprender a gostar de cada detalhe que tenho.E pra seduzir somente o que me acrescenta.
Adoro a poesia e gosto de descascá-la até a fratura exposta da palavra.
A palavra é meu inferno e minha paz.
Sou dramática, intensa, transitória e tenho uma alegria em mim que me deixa exausta.
Eu sei sorrir com os olhos e gargalhar com o corpo todo.
Sei chorar toda encolhida abraçando as pernas.
Por isso, não me venham com meios-termos,com mais ou menos ou qualquer coisa.Venha a mim com opiniões formadas, alma, vísceras, tripas e ideais...
Eu acredito é em alegrias explosivas, em olhares faiscantes,em sorrisos com os olhos, em xingamentos amáveis, em abraços que trazem pra vida da gente.
Acredito em coisas sinceramente compartilhadas.
Em gente que fala verdades, na voz e no conteúdo.
Eu acredito em profundidades.
E tenho medo de altura, mas não evito meus abismos.
São eles que me dão a dimensão do que sou.




Myllena Queiroz

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

"HOW CAN I GO ON"

"Sorria sempre"


O sorriso é uma das características que nos distingue. Um simples sorriso pode deixar-nos tão felizes... Incutir-nos esperança, ajudar-nos a sonhar e a vencer os obstáculos diários que a vida teima em colocar enviesados em nosso caminho, enfim, um sorriso espontâneo, caloroso, sincero digno da expressão de contentamento, contagia-nos e transporta-nos para outra dimensão... Um sorriso pode ser um salubre remédio contra aqueles dias cinzentos, o sustentáculo da felicidade que queremos alcançar...
Sorrir é no mínimo um ato de respeito e empatia com o próximo, pois através dele reconhecemos o outro como pessoa. Com um sorriso sincero podemos mudar o mundo, colocando o amor, respeito, autoconfiança e esperança no centro da vida humana ao invés do egoísmo ou o interesse pessoal.
A princípio você pode achar difícil sorrir, e nesse caso deve considerar o porquê. Sorrir significa nossa essência, que estamos sendo nós mesmos, que estamos tendo soberania sobre o nosso destino, que não estamos mergulhados no esquecimento interior.
O Sorriso é a expressão mais bonita que o ser humano tem, nos traz forças e esperanças, é linguagem universal, tem reflexos por toda parte.
Aceitar ou não é uma questão de opção, mudar ou não é uma questão de querer, fazer ou não é uma questão de atitude.
Sorrir é uma questão de atitude, depende exclusivamente de você.
"O sorriso é o espelho da alma”

(A.D)

"De olhos Fechados"



Sou você até quando fechos os olhos...
Eu beijo o mar beijando você... Sempre.
E se desenho o seu nome na areia do amor,
Sou apenas um romântico...
E se um verso bobo escrevo para você chorando,
Sou apenas um romântico...
Se me deleito com seus olhos quando me pisca sedutora,
Sou apenas um romântico...
Se te vejo à distância e me arrepio sem tocá-la,
Sou apenas um romântico...
Sou eu por você! Sou eu com você!
Somos um até de olhos fechados, espero...
Abraçamos a vida entrelaçando os corpos, sempre...
E se rezamos, juntos, a oração do amor eterno,
Estás em mim e estou em ti.
Se encontramos as bocas e nossas almas se beijam,
Estás em mim e estou em ti.
Se choramos juntos as perdas e os ganhos,
Estás em mim e estou em ti.
Assim somos um pelo outro! Somos um!
Então, seja eu...
Seja eu pelo menos com os olhos abertos.
Por que se estou longe e não desenhas meu nome na areia da sua praia,
Não és romântica...
Se não me escreves chorando para dizer como vão as coisas,
Não és romântica...
Por que se a distância te impedir de me piscar sedutora,
Não és romântica...
E se me vendo sem ver, não alcanças o mesmo arrepio,
Definitivamente, não és romântica...
Não és por mim! Não és comigo!
E se não estás comigo quando estamos separados,
Significa que só estou em ti quando estamos juntos.
Se não és por mim, mesmo diante da ausência,
Então somos dois...
E se assim for,
Mentistes até de olhos abertos...
Pois se não somos um, e eu sou o único romântico,
Não poderias nunca ter estado em mim um dia...
Nem de olhos abertos e perto,
Tão pouco de olhos fechados e longe de tudo que deixastes para trás...
Ou seja, eu e mais alguns outros objetos pessoais e descartáveis.

(Adriano DiCarvalho)

"Construção"


Amou daquela vez como se fosse a última Beijou sua mulher como se fosse a última E cada filho seu como se fosse o único E atravessou a rua com seu passo tímido Subiu a construção como se fosse máquina Ergueu no patamar quatro paredes sólidas Tijolo com tijolo num desenho mágico Seus olhos embotados de cimento e lágrima Sentou pra descansar como se fosse sábado Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago Dançou e gargalhou como se ouvisse música E tropeçou no céu como se fosse um bêbado E flutuou no ar como se fosse um pássaro E se acabou no chão feito um pacote flácido Agonizou no meio do passeio público Morreu na contramão atrapalhando o tráfego Amou daquela vez como se fosse o último Beijou sua mulher como se fosse a única E cada filho seu como se fosse o pródigo E atravessou a rua com seu passo bêbado Subiu a construção como se fosse sólido Ergueu no patamar quatro paredes mágicas Tijolo com tijolo num desenho lógico Seus olhos embotados de cimento e tráfego Sentou pra descansar como se fosse um príncipe Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo Bebeu e soluçou como se fosse máquina Dançou e gargalhou como se fosse o próximo E tropeçou no céu como se ouvisse música E flutuou no ar como se fosse sábado E se acabou no chão feito um pacote tímido Agonizou no meio do passeio náufrago Morreu na contramão atrapalhando o público Amou daquela vez como se fosse máquina Beijou sua mulher como se fosse lógico Ergueu no patamar quatro paredes flácidas Sentou pra descansar como se fosse um pássaro E flutuou no ar como se fosse um príncipe E se acabou no chão feito um pacote bêbado Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado

(Chico Buarque)